O vestibular e Privatização das Universidades
Um mecanismo de controle e despolitização
Pensar e construir uma universidade a partir da América Latina era um dos desafios que o movimento estudantil de Córdoba, na Argentina, defendeu em seu Manifesto de 21 de junho de 1918 . A partir desse movimento, algumas universidades argentinas passaram a ter acesso sem vestibular, por exemplo a UBA (Universidade de Buenos Aires), onde há um grande número de estudantes estrangeiros. E muitos brasileiros vão para lá realizar seu sonho de cursar medicina. Esse movimento, inclusive, inspirou outros países na América Latina a ter uma universidade pública sem vestibular.
O vestibular é um mecanismo que favorece um sistema que lucra com essa seleção. Quanto mais burocrática e difícil é a entrada das pessoas na universidade pública, mais esse espaço se torna elitizado. Porém, as pessoas não deixam de ter a necessidade de estudar, já que isso, hoje, é uma das únicas esperanças que o trabalhador brasileiro tem para ascender socialmente.
Então, muitos não conseguem ter um preparo qualificado para conseguir passar nesse mecanismo de seleção, ou quando passam acabam sofrendo lá dentro, já que mesmo na instituição pública existem custos para permanecer estudando, com alimentação, material, transporte e moradia. Custos que não são baixos. Esse mecanismo é produzido exatamente dessa forma, para que fique uma lacuna de quem deseja estudar mas não consegue entrar em uma universidade pública. Dessa forma, ao invés de ampliarem o acesso à Universidade Pública, destinando mais investimento ao público, são criados financiamentos estudantis em parceria com os bancos e universidades particulares, como forma de solucionar o problema.
Mas existe uma grande problemática nisso, que faz com que o estudante do ensino privado já saia da faculdade endividado, e quem se favorece com isso são os bancos. E esse movimento todo acaba levando a uma precarização do ensino por meio da terceirização dos serviços e da sobrecarga do trabalho em poucos funcionários , já que quanto mais oportunidades a iniciativa privada identifica de lucrar em cima disso, mais o trabalho dos professores e o ensino dos estudantes, vira apenas uma forma de acumular mais capital.
Levando ao cenário que estamos hoje, onde nas universidades privadas vemos uma fábrica de diplomas, onde a politização, o livre pensamento e a consciência crítica dos estudantes não é incentivada, e o ensino acaba tendo como base um discurso meritocrático e falacioso, não se abrem concursos já que não há o interesse que esses profissionais sejam estáveis. Pelo contrário, há a intenção de favorecer um cenário de medo e estresse, que acaba sendo passado para os alunos através dos métodos de ensino, digitalização e virtualização do conhecimento e fabricação de conceitos que são introduzidos nos cursos e só favorecem a ascensão do neoliberalismo, e não a construção de profissionais para atuar com as demandas da população e do social.
Autoras: Autora: Mariane Regina Salles Panek
e Yasmim Lima para Revolução Socialista
@panekpsi
Psicóloga Comunitária
CRP 08/32713