O medo é a mais poderosa ferramenta ideológica.
Desde o Manifesto de 1848, Marx e Engels já apontavam que o comunismo assombrava a Europa não diretamente por seus feitos, mas pela possibilidade de um povo que deixasse de aceitar a exploração. Esse “fantasma” é alimentado até hoje por uma ideologia que atua muito no terror psicológico.
A burguesia usa ferramentas para criar narrativas morais e emocionais que mantenham o trabalhador desconfiado de si mesmo, e de tudo que possa questionar a ordem. Por isso, o comunismo é apresentado como ameaça, nunca como ideia. As pessoas não são incentivadas a pensar sobre ele, mas condicionadas metodológicamente a sentir medo e repulsa.
A Psicologia pode ajudar, através do entendimento sobre a construção das subjetividades, de como o medo é produzido e a que ele serve, a compreender justamente esse processo. As pessoas sequer percebem que o que sentem é medo; o condicionamento tem como objetivo produzir repulsa, raiva ou ironia. A moral é usada para produzir culpa, e os sujeitos acabam sendo reforçados a internalizar a ideia de “bons cidadãos”: obedientes, produtivos, pacíficos, para manter a ordem.
Essa é a pergunta que raramente se faz, porque a resposta desmonta toda a lógica que sustenta o medo.
Com a dizimação de tantas comunidades, povos e territórios, o que restou ao povo como referência de pertencimento foi a família nos moldes burgueses. É dentro dessa estrutura que muitos depositam a noção de segurança e afeto coletivo que lhes foi arrancada historicamente.
Por isso, quando se diz que “o comunismo vai acabar com a família”, o impacto é profundo. Toca um medo inconsciente, quase instintivo, de ficar sem a própria comunidade. É um medo político e emocional, construído sobre o trauma da perda, e, ao mesmo tempo, usado para impedir que novas formas de comunidade e cuidado possam nascer. A forma como isso é feito, se apropria de símbolos, manipula emoções e adultera fatos verdadeiros, colocando o comunismo como se fosse o próprio capitalismo.
Trabalha-se com a projeção: tudo aquilo que o sistema atual produz: exploração, controle, desigualdade, é atribuído ao outro, ao inimigo imaginário. E com o peso das estruturas, da mídia e do investimento por trás dessa propaganda, a mentira ganha aparência de verdade. Para quem vive dentro de uma bolha que apenas confirma essa perspectiva, tudo isso soa óbvio, coerente, quase incontestável. Nós não temos correlação de forças para produzir uma propaganda igual. O que nos resta (e o que temos de mais poderoso) é a troca, a presença e o trabalho de base.
É na intervenção prática, no vínculo e na escuta, que pode nascer uma vivência capaz de permitir que cada pessoa construa sua própria opinião, a partir da experiência e não da imposição. É isso que o método freireano e a Psicologia Social Comunitária defendem: o aprendizado como processo coletivo, vivido na realidade concreta, onde o saber nasce do encontro entre consciência e território. Isso ajuda não apenas a categoria, mas toda a sociedade, a não reforçar a lógica do “eu-outro”: a ideia de que quem pensa que o comunismo “não presta” é burra ou inferior.
Essa é a velha estratégia do dividir para conquistar, que mantém o medo, a culpa e a desinformação como instrumentos de controle.
Ao contrário, a intervenção prática, o diálogo e a presença de base promovem a construção de consciência crítica, fortalecendo laços de pertencimento e comunidade, permitindo que a reflexão surja da experiência coletiva, e não da imposição moral.
Mariane Regina Salles Panek
@panekpsi
Psicóloga Comunitária
CRP 08/32713