Esquizoanálise

"A esquizoanálise tem um único objetivo, que a máquina revolucionária, a máquina artística, a máquina analítica se tornem peças e engrenagens umas das outras”

O que isso significa?

Conectar engrenagens analíticas, revolucionárias e artísticas

Engrenagens analíticas: elementos que podem envolver análise crítica e racional. Aqui, pode ser considerado o uso e elaborações do pensamento crítico, dados, e lógica para compreender e abordar problemas.

Engrenagens revolucionárias: considerar nas análises ferramentas que buscam e provocam transformação social profunda e estrutural. Envolvem as intervenções em ações e pensamentos que visam mudar radicalmente as condições sociais, econômicas e políticas existentes.

Engrenagens artísticas: Estes são os elementos criativos e expressivos. A arte pode ser uma forma poderosa de comunicação e desenvolvimento, capaz de trabalhar nas emoções e provocar mudanças materiais na vida das pessoas.

Operar literalmente no paradigma ético-estético-político

Paradigma ético: Refere-se a um conjunto de princípios morais e valores que guiam as ações e intervenções, evitando uma análise simplista de bom-mau ou certo-errado. Em vez disso, buscando entender a complexidade das situações, reconhecendo que julgamentos rígidos podem levar ao niilismo e à negação da vida real em favor de uma vida idealizada e inexistente. 

Promovendo a valorização das nuances e das realidades vividas, o elemento crucial nesse sentido é se questionar "que estilos de vida esse processo dispara?" ao invés de operar a partir de um referente com regras pré-estabelecidas.

Paradigma estético: Trabalhar à partir das linhas de criatividade e expressão artística. A estética aqui é usada não apenas no sentido de beleza visual, mas como uma forma de percepção e expressão socio-cultural.

Paradigma político: A maneira como as relações de poder e as estruturas afetam a vida do sujeito. Isso inclui entender como as políticas sociais e econômicas impactam a saúde mental, as estruturas de poder (como empregadores, família, instituições) e como essas elaborações podem influenciar seu bem-estar.

Conectar essas engrenagens, combina o pensamento crítico e analítico com ações revolucionárias e criativas, operando dentro de um conjunto de princípios que valoriza a arte e ética, a moral revolucionária, a estética e a política. Isso implica uma abordagem integrada que não separa o pensamento analítico da prática revolucionária cotidiana e da expressão artística, reconhecendo que todas essas áreas estão interligadas e nos influenciam mutuamente.

"Não existe um híbrido analítico-artístico que desencadeie transformações, que crie modos de existência a cada encontro, e que agencie processos de singularização, sem engendrar um Cuidado de Si. É essencial desejar e respeitar a diferença em mim e no outro. Que a relação analista-cliente/analisando/grupo se crie e se recrie constantemente como uma diferenciação que faça sentido para o processo.

Seguindo na mesma perspectiva, há uma necessidade de conectar estas máquinas supracitadas com uma Máquina Revolucionária, contemplando o sentido Político dessa hibridação.

Não há máquina analítico-artística na Esquizo que não seja também política, que não vise criar microguerrilhas ou revoluções moleculares, no campo da micropolítica, no campo da produção do desejo, no campo dos processos de subjetivação (e por conseguinte produzindo interferências no plano macropolítico).

Não há máquina analítica-artística-política Esquizo que não vise inter-ferir nos microfascismos, nos regimes de produção de assujeitamento, de antiprodução.

Assim é impossível, na concepção da subjetividade produzida e atravessada por linhas de natureza e intensidade plurais, opor estas máquinas, mas sim agenciá-las produzindo práticas que tornem
indissociáveis cuidar-criar-resistir!"


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Félix Guattari - Revolução Molecular -pulsações políticas do desejo